domingo, 17 de outubro de 2010

Manobras livram Cid Gomes de investigação no Ceará

Base governista criou CPIs de fachada para evitar apuração sobre desvios

Gabriel Castro

O governador já havia escapado, sem grandes danos políticos, de outra história obscura: o direcionamento da licitação para a reforma do estádio Castelão, em Fortaleza

Nestas eleições, denúncias de corrupção foram diretamente responsáveis pelo fracasso de dois governadores que tinham boas chances de garantirem mais quatro anos à frente do cargo: Pedro Paulo Dias (PP), do Amapá, e Marcos Gaguin (PMDB), de Tocantins. No Ceará, a situação foi diferente. Envolvido em graves suspeitas, Cid Gomes (PSB) venceu a disputa já no primeiro turno. O candidato obteve 61% dos votos válidos duas semanas depois da reportagem de VEJA que deu detalhes de uma investigação que aponta para um desvio de 300 milhões de reais, envolvendo Cid e seu irmão, Ciro Gomes. Ele pode atribuir parte de seu sucesso à ágil mobilização da base governista para minimizar as denúncias. Dos 46 parlamentares, apenas oito são tidos como oposicionistas.

O esquema descoberto pela Polícia Federal envolvia convênios fraudulentos com o Ministério da Integração Nacional, que foi comandado por Ciro e ajudou a financiar a campanha dos irmãos Gomes, em 2006. Porém, ele não deve se transformar em uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa, como seria natural se imaginar.

O governador já havia escapado, sem grandes danos políticos, de outra história obscura: o direcionamento da licitação para a reforma do estádio Castelão, em Fortaleza. A Marquise, empresa sem qualquer experiência no ramo, estava designada a vencer a disputa pelo contrato de 454 milhões de reais. O caso foi revelado por VEJA, em julho.

A bancada oposicionista, minoria na Assembleia Legislativa do Ceará, conseguiu angariar 16 assinaturas pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para Investigar o caso. O requerimento foi entregue à Mesa Diretora. Mas os governistas conseguiram, ainda assim, derrubar a CPI. "Eu imaginei que já estava tudo certo para a criação da comissão, mas fui surpreendido", conta o deputado estadual Heitor Ferrér (PDT), autor do requerimento.

O artifício usado foi engenhoso: assim que o pedido de abertura da CPI do Castelão passou a ter assinaturas suficientes para criar a comissão, os governistas surgiram com outras comissões de fachada, por assim dizer: uma para investigar, genericamente, o narcotráfico. A outra, também genericamente, para investigar a pirataria. Ambas foram aceitas pela Mesa Diretora e impedem, agora, qualquer investigação - já que o regimento da Assembleia só permite que duas CPIs funcionem simultaneamente.

De lá para cá, as comissões praticamente não funcionaram, mas continuam ocupando as duas vagas e impedindo que a Assembleia investigue as denúncias contra o governador - que nega ter participado de qualquer irregularidade. "Vou pedir informações sobre essas CPIs. Quero saber quais documentos e depoimentos eles obtiveram", diz Heitor Ferrér. O parlamentar não alimenta qualquer esperança de que a Assembleia possa investigar as denúncias contra o governo. E, pela composição da casa a partir de 2011, o cenário deve não deve se alterar.


Fonte: Veja

Nenhum comentário:

Postar um comentário